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Indígenas da Ilha do Bananal reclamam de falta de assistência médica após duas crianças morrerem em 10 dias

Uma das crianças, de apenas 1 ano, teriam aguardado mais de duas horas para ser levada para hospital e motorista do Distrito Sanitário Especial Indígena do Araguaia (DSEI-Araguaia) não atendeu chamado

A falta de assistência médica se tornou uma reclamação recorrente em aldeias indígenas na Ilha do Bananal, principalmente após a morte de duas crianças em um intervalo de 10 dias. Em um dos casos, indígenas karajá da aldeia Macaúba relatam que houve demora para encaminhamento da menina para uma unidade hospitalar porque um motorista teria deixado o plantão e não atendia as ligações.

A pequena Utai Kureheru Iny sofria de pneumonia e na segunda-feira (18), teve um primeiro atendimento ainda na aldeia. Como seu estado de saúde piorou, ela precisava ser levada para um hospital em Confresa (MT), cidade com hospital mais próxima. Com a demora do motorista, segundo os parentes, ela sofreu uma parada cardíaca e morreu.

A reportagem pediu posicionamento do Ministério da Saúde (MS), que informou que o motorista citado pelos familiares da criança foi afastado do cargo (veja nota ao final da matéria).

Conforme relatado por Eliana Karajá, que é prima dos pais da criança e atua como conselheira de saúde indígena, a mãe e a menina aguardaram pelo carro do DSEI no posto da balsa na cidade de Santa Terezinha (MT) por pelo menos duas horas.

O carro até estava no local, mas o motorista não teria aparecido. Com a demora, elas conseguiram ajuda do cacique Renato Karajá, que com o veículo da Associação Indígena da aldeia Macaúba, as levou para o hospital em Confresa. Mesmo com os esforços, a criança sofreu uma parada cardíaca e morreu. Josué informou que a morte ocorreu no final da tarde de segunda-feira (18) e que a menina foi enterrada no mesmo dia, já que não há o costume de velar os mortos.

Os parentes da criança também procuraram o Instituto Indígena do Tocantins (INDTINS) para denunciar a situação e pediram providências quanto à conduta do motorista.

O tio da criança, Josué Karajá, relatou que quando eles procuraram pelo motorista por causa do atraso, ele ‘teria ido para casa dormir e colocou o telefone em modo silencioso’.

Segundo o Instituto, essa não é a primeira vez que o povo Karajá enfrenta dificuldades com o serviço de saúde pública, que é de responsabilidade do DSEI-Araguaia. Com problemas com o transporte, três aldeias ficaram sem o serviço em maio deste ano, que é essencial já que muitas aldeias da região não possuem postos de saúde, segundo a entidade.

Na aldeia do povo Tapibaré, que fica próxima ao Macaúba, o pequeno João Miguel morreu há 20 dias e a família também reclama de falta de assistência para a comunidade. Ele nasceu com problema de hipoglicemia e precisava de acompanhamento contínuo, mas que isso não aconteceu.

“Eles trabalham pelo dinheiro, não estão fazendo o que deveriam fazer. Enquanto estiver a mesma equipe, o trabalho vai ser o mesmo. Está faltando tanta coisa, tipo combustível, medicação, enfermeiro, dentista. Por isso em julho a gente enfrentou muita dificuldade, muita tristeza com a perda do pequeno João Miguel”, disse uma parente da criança, ressaltando a preocupação com as mortes nas comunidades indígenas.

Capacitação precisa de melhorias

Para Jaqueline Calafete, pesquisadora e especialista em saúde indígena, muitos profissionais não se fixam nos territórios.

“Eles não conseguem conciliar sua formação teórica com a prática que pe requerida dentro desses territórios. E não há um programa de educação continuada sério, fixo que oferte a esses profissionais uma qualificação que façam com que se sintam seguros”, explicou.

O Ministério Público Federal (MPF) disse que irá apurar o caso.

O que diz o Ministério da Saúde

Em nota, o Ministério da Saúde lamentou a morte da criança, informou que o DSEI Araguaia afastou o motorista que não atendeu ao chamado e que apura os fatos. Também ressaltou que “não faltam meios de transporte, e que na região a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) dispõe de três barcos, cinco camionetes e uma van, todos com combustível, além de servidores suficientes para realizar os serviços de transporte em saúde”.

O Ministério ainda deu informações sobre o estado de saúde de Utai Kureheru Iny. Ela havia recebido atendimento no início de maio deste ano, e que teria feito tratamento até que o sintomas desaparecessem.

Na segunda-feira (18), a paciente apresentou novamente os sintomas e, por decisão da família, passou a ser cuidada pelo pajé da aldeia. Como seu quadro de saúde piorou, recebeu os atendimentos nas cidades de Santa Terezinha e Confresa, no Mato Grosso.

Olhar Alerta




26/07/2022 – Confresa FM

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